Uma decisão do
Superior Tribunal de Justiça (STJ), em recurso repetitivo, reacendeu a polêmica
sobre a tributação de juros de mora ou correção. Por unanimidade, os ministros
da 1ª Seção entenderam que os contribuintes devem recolher Imposto de Renda (IR)
e CSLL sobre os juros recebidos em levantamento de depósito judicial ou na
devolução de tributos pela Receita Federal.
Para advogados, o entendimento
conflita com pelo menos três decisões – duas em recursos repetitivos –
proferidas nos últimos dois anos pela 1ª Seção. “Há uma forte contradição entre
os acórdãos”, diz o advogado Francisco Giardina, do escritório Bichara, Barata
& Costa Advogados. Em dezembro, os ministros decidiram, também em recurso
repetitivo, que os juros de mora decorrentes das verbas pagas aos servidores
públicos por meio do Plano de Seguridade Social (PPS), por serem uma forma de
indenização, não deveriam ser tributados pela contribuição previdenciária.
Dois
meses antes, em outubro, o mesmo colegiado entendeu que incide Imposto de Renda
sobre juros de mora recebidos pelo atraso no pagamento de verbas trabalhistas,
exceto em situações específicas (veja ao lado). Na semana passada, ao analisar
processo apresentado pela Hering, a 1ª Seção exigiu a tributação pelo IR e CSLL
dos juros decorrentes de depósitos judiciais e devoluções de tributos recolhidos
a mais ou indevidamente (repetição de indébito). “Não há diferença entre os
casos porque o que está em discussão é a natureza dos juros de mora.
Não cabe
uma interpretação para cada caso concreto”, diz o advogado Carlos Golgo. Os três
casos foram relatados pelo ministro Mauro Campbell Marques. Os advogados da
Hering esperam a publicação do acórdão para recorrer da decisão. “Tentaremos
novamente convencer os ministros de que não há tributação. Nos dois casos, os
juros recompõem o patrimônio da empresa que ficou indisponível em um determinado
período”, diz Ana Paula Faria, do escritório Gaia, Silva, Gaede &
Associados, que representou a Hering no processo. Na primeira instância e no
Tribunal Regional Federal da 4ª Região (Sul do país), a empresa havia conseguido
afastar a tributação.
Segundo advogados, o precedente impacta milhares de
empresas que questionam cobranças de tributos na Justiça. De acordo com a
Receita Federal, de janeiro a abril deste ano, as empresas depositaram em juízo
R$ 4,2 bilhões para discutir autuações fiscais na esfera administrativa e
judicial. Se há vitória, os contribuintes conseguem levantar os valores com
juros. Por meio de nota, o procurador da Fazenda Nacional Paulo Mendes informa
que “há inúmeros precedentes favoráveis à tese da Fazenda Nacional nos TRFs,
especialmente nos tribunais da 2ª e 4ª Regiões.
A definição da tese em sede de
repetitivo é bastante relevante, tendo em vista os vultosos montantes que são
depositados em juízo pelos contribuintes”. Para o ministro Mauro Campbell
Marques, os juros devem ser tributados porque são remuneração ao contribuinte.
“O fato gerador dos juros não decorre de mora da Fazenda Pública, mas da
existência de depósito voluntariamente efetuado pelo contribuinte”, diz o
ministro na decisão. No caso das restituições de tributos pagos indevidamente, o
ministro entendeu que os juros têm caráter de lucro cessante. Ou seja,
representariam aquilo que o contribuinte ganharia se não tivesse que pagar os
tributos.
Dessa forma, diz o ministro, representam acréscimo ao patrimônio da
empresa, “razão pela qual é legítima sua tributação pelo IR, salvo a existência
de norma isentiva da verba principal”. Para o tributarista Diego Miguita, do
Vaz, Barreto, Shingaki & Oioli Advogados, a decisão não leva em conta o
artigo 404 do Código Civil, que embasa acórdãos do próprio STJ.
Segundo o
dispositivo, os juros de mora têm caráter de indenização. “O entendimento vai
contra o princípio da razoabilidade ao tributar um dinheiro que, ao invés de
estar na sua conta, foi represado pelo Estado”, diz. Advogados afirmam que a
decisão do STJ poderá influenciar na discussão sobre a tributação de juros
recebidos por empresas de cartão de crédito, varejistas, atacadistas, do setor
elétrico e de telefonia em casos de inadimplência do consumidor. “Grandes
empresas discutem o assunto, e possuem decisões favoráveis na primeira
instância”, afirma Miguita. Bárbara Pombo de Brasília.
Fonte: Valor Econômico.
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